2009 finaliza como sendo um dos anos mais interessantes e produtivos da década para a música brasileira. A consistência com que os artistas estão fazendo a releitura da tradição musical e a localização desta no universo pop mundial se mostra vigoroso e menos ressentido que as décadas anteriores. Ao que parece, bandas como Porcas Borboletas ou Roney Jorge & Ladrões de Bicicleta não tem problema algum em assumir posições que dialogam com aquela tradição musical sem deixar de estar conectado com o que acontece na cultura pop atual. Resume bem o que foi a década.
O ano termina e as listas de melhores do ano e da década pipocam por sites especializados, revistas eletrônicas e tradicionais confirmando algumas quase unanimidades. Ainda que muitas dessas listas sejam uma maneira fácil de causar certo ruído de marketing viral, algumas representam um direcionamento epistemológico da crítica musical. Falo principalmente da lista de melhores da década do Scream & Yell e das 100 Maiores Músicas Brasileiras da Rolling Stone. Essas listas são, antes de apenas capricho egótico de editores de revista, uma busca pelo fio condutor que direciona a música nesta década – o fato de a escolha ser feita através da triagem de votos de um coletivo de críticos é de suma importância, penso. É também, claro, uma tentativa de construção de uma narrativa para algo que parece caótico e disperso.
Los Hermanos com dois álbuns no topo do Scream & Yell não é nem um pouco impressionante. Nenhuma banda ou artista conseguiu tamanho sucesso de público e crítica quanto os cariocas. Cidadão Instigado aparece em seguida como aquela força disruptiva que já mencionei aqui. A banda de Catatau soa como um eco obscuro e mais à esquerda da primeira colocada. Uma banda de críticos, enfim – o comentário hermético e politicamente direcionado do conselho de sábios. A lista segue com pouca surpresa, resvalando sempre, ora nos discos que dialogam com a tradição musical, ora nas novidades criativas que surgiram durante esses anos 00 – falo de coisas como Wado e Bidê ou Balde (e me pergunto se Goiânia tem alguma culpa sobre a tediosa melancolia e chatice poética de Violins, sua única representante na lista).
Talvez daqui há dez anos muitos desses nomes terão peso menor e outros esquecidos surgirão com maior poder simbólico para aqueles que olharem para essa primeira década. Nenhuma lista e nenhuma leitura histórica são permanentes – e é bom que seja assim -, tais leituras, direcionamentos e listas dizem muito sobre aquilo que lhes escapam e sobre quem as organiza do que podem supor. Uma lista bem feita pode ser, além de mera diversão, a expressão de um zeitgeist.
A lista final do Scream & Yell ficou assim:
01) Bloco do Eu Sozinho, Los Hermanos (2001)
02) Ventura, Los Hermanos (2003)
03) O Método Túfo de Experiências, Cidadão Instigado (2005)
04) Nadadenovo, Mombojó (2004)
05) Cê, Caetano Veloso (2006)
06) Nação Zumbi, Nação Zumbi (2002)
07) Nada Como Um Dia Após o Outro Dia, Racionais MC’s (2002)
08) Cansei de Ser Sexy, Cansei de Ser Sexy (2005)
09) Japan Pop Show, Curumin (2008)
10) Grandes Infiéis, Violins (2005)
11) Cosmotron, Skank (2003)
12) Vanguart, Vanguart (2007)
13) Toda Cura Para Todo Mal, Pato Fu (2005)
14) Por Pouco, Mundo Livre S/A (2000)
15) A Farsa do Samba Nublado, Wado (2004)
16) Uhuuu, Cidadão Instigado (2009)
17) Melodias de Uma Estrela Falsa, Astromato (2000)
18) Futura, Nação Zumbi (2005)
19) Outubro ou Nada, Bidê ou Balde (2002)
20) À Procura da Batida Perfeita, Marcelo D2 (2003)
eu não escuto quase nada de música brasileira… shame on me! :S
mas concordo com a posição dos hermanos, apesar de simplesmente não aguentar mais ouvir um acorde sequer deles (mas vai ver é por isso mesmo que eles merecem a 1a posição, neam?)
kissu :*
Belo texto, Eduardo.
Aí segue meu capricho egótico.
A procura da batida… – Marcelo D2
Nada como um dia após… – Racionais
Por Pouco – Mundo Livre
Nação Zumbi – Nação Zumbi
Certa manhã acordei… – Otto
Bambas & Biritas – Bid
3 sessions in Greenhouse – Lucas Santana
Vagarosa – Céu
Sim – Vanessa da Mata
Universo ao meu redor – Marisa Monte
Um abraço
Valeu pela lista, mano. Concordo com muita coisa aí.
Abração!
Acho que não escuto música nacional suficiente para confabular um TOP 10 da década, e com certeza a memória retrospectiva afetada também não ajudaria na empreitada, mas na minha opinião (e considerando somente ela!) colocar dois álbuns dos Los Hermanos na prima (pode ser que “Bloco” entrasse por ali na 8ª posição) , dois do Cidadão Instigado na lista e, ainda por cima, Violins (qualé da rasgação de ceda da galera de fora com essa banda??), só pode ser mesmo para produzir algum ruído na cena.
Algumas coisas que senti falta:
B Negão e Seletores – Enxugando o gelo (2003) – (esse pra mim o melhor da década, cabeça a cabeça com Futura)
Planet – A invasão do sagaz homem fumaça (2000)
Cachorro Grande – Pista Livre (2005)
Black Alien – Babylon by Gus (2004)
Lobão – Canção Dentro da Noite Escura (2007)
Walverdes – Anticontrole (2002)
Adendo: “algumas representam um direcionamento epistemológico da crítica musical” . Anda se puxando hein Abreu!
Passado do tempo: foi mal aí pela seda de “ceda” !
Já que tão botando listas pessoais, vou mandar a minha também, que ninguém é de ferro:
1 – Bloco do Eu Sozinho – Los Hermanos
2 – Uhuuu! – Cidadão Instigado
3 – Sol no Escuro – Fábio Goes
4 – Japan Pop Show – Curumin
5 – Vagarosa – Céu
6 – Toda Cura para todo mal – Pato Fu
7 – Cê – Caetano Veloso
8 – Farsa do Samba Nublado – Wado
9 – Futurismo – Kassin + 2
10 – Canções Dentro da Noite Escura – Lobão
E duas menções honrosas, que numa dia de melhor humor entrariam numa boa no top 10:
Rap É Compromisso! – Sabotage
Uma Tarde na Fruteira – Jupiter Maçã
A Fabi devia fazer um top 10 de música brasileira da década. Não vou fazer nem top 10 nem top nada, porque não lembro de nada. E o que ouço não é representativo de todos estilos e gêneros e bandas e composições pra ter credibilidade. Rs.
Beijo, Edu.
Pô, vinha só chiar com esse top 10 do Scream & Yell aqui tb. Mas “alguém” (nham, nham…) já reclamou por mim:
1. Dois dos Los Hermanos na alta! $%@#$¨%$&¨%&¨ (tá, tá, é a minha eterna opinião mais do que pessoal e não vou voltar a brigar com o mundo inteiro… x-(
2. Violins?! (Abstenho-me de comentários)
No mais, meu acordo com meu amado para por aí. Sou mais seu Top 10 Du (com exceção do number 1, claro!), acho que vc continua sendo mesmo meu “music personal stylist”! hahaha…
Eu sigo sendo “velha” demais pra fazer um Top 10 da década, mas muita coisa foda me veio à mente enquanto lia isso tudo isso aqui. Massa.
P.S: Tô esperando o mixtape do semestre! =P
Beijo!
Ou, Ju, valeu demais!
Deixa de besteira e manda a sua lista também.
Beijo!
Não tem jeito, quase todo mundo que gosta muito de música, gosta de listinhas.
Putzzzzzzz! Como esqueci o do B.Negão?!
Tem que tá!
PS: Tenho uma relação com o Los Hermanos igual a que tenho com o Cidadão Instigado.
Gosto muito de 50% e detesto a outra metade.
Abraço a todos
B. Negão é aquela que tem a Dança do Patinho? É sério que aquilo é bom? rs. Bom mesmo é Sabotage! 🙂
Porra que eu não entendo o que tanto nego vê em Cê e concordo com o cabôco ali que comentou de dois de Los Hermanos na lista ser muito (penso que só o Ventura em primeiro era suficiente. O Bloco é macanudo, mas o Ventura é mais redondo como álbum).
No mais, só me dei conta que estamos terminando uma década agora que li esse seu post. 😛
Sobre o Ventura concordo demais que é o melhor deles, mas o Bloco… foi aquele disco que geral entrou em parafaso quando ouviu, tipo, isso é Los Hermanos? Aquela bandinha de m* que passava na MTV? Uau! Eu fui um dos que sentiu isso na época. Depois dele mudou tudo. Virou religião, inclusive. Quanto ao Cê, é o que é dá Caê ouvir Pixies. Ou não. rs
A década ainda não terminou, só pros jornalistas que não sabem contar… 😛
Você é sempre presença ilustre neste recinto, sr. Erick Rayne. Abs.
É, agora entendi sobre o Bloco. Ainda mantenho minha opinião porque eu ouvi o disco homônimo do Los Hermanos por conta própria, na época, e já comecei a gostar. Aí quando veio o Bloco, não entrei em parafuso pelo disco, apenas curti um bocado.
Essa conta Caetano + Pixies = Cê não entra na minha cabeça nem nunca entrará, hehe.
Valeu pela rasgação de seda, meu brother. Queria eu aparecer mais neste tão honroso recinto, mas sabe como é, né?, agora eu sou um senhor casado e cheio de obrigações. Hehe.
[]’s
E.
(perceba o tom e-mailístico do comentário. agora querem que eu vire tuiteiro. nem em milanos)
Pô, cara, A dança do patinho é um tiração de onda e tal.
Mas tem grooves e metaleira super espertos nesse disco.
Sem contar nas letras budistas/filosóficas do B.Negão nas ótimas faixas: Nova visão, Prioridades e O Processo é Lento.
Dá uma sacada no som da faixa Funk até Caroço.
Coisa fina.
Tá aí
http://www.myspace.com/seletores
[…] Eduardo Pinheiro fez uma análise rápida em seu Freakções (leia a integra aqui). Ele reconhece o sucesso de público e critica do Los Hermanos e define bem quando escreve que […]
Lista brasileira não me atrevo a fazer. Às vezes escuto rádio de mpb e não escuto nada de novo que me chame a atenção, até porque, pra mim, metade das pessoas querem ser Caetano e, goste-se ou não desse, não chegam nem perto.
Rock brasileiro, em regra, é sofrível. Ou as letras são horríveis, ou os vocalistas não fazem o mínimo esforço para cantar: dói os ouvidos.
Do Los Hermanos, só colocaria o Ventura na lista; Marcelo D2 sofreu de super exposição (superexposição? super-exposição?!) (reforma ortográfica de merda!) e talvez num primeiro momento não entraria, mas com o tempo acho que figuraria em boa posição.
CSS ?! Isso foi criado pelo Lúcio Ribeiro e muita gente caiu no conto.
Não gosto de listas. Sempre me esqueço de algo. E sou péssima em julgamentos de 1º e 2º lugar.
Mas fico mais com sua lista, Edu, do que a outra.
Tinha tempo que eu não passava por aqui…
Beijos!