Quem quer ser milionário?, último filme de Danny Boyle, que acaba de ganhar oito Oscars, é interessante. Mas nada ali é absolutamente novo; a linguagem, a técnica, o enredo, a montagem, tudo já foi visto. Inclusive se [inevitável não fazer] compararmos com Cidade de Deus. Tudo muito evidente e previsível, a não ser pelo fato de a ponte entre as duas maiores indústrias do Cinema mundial ser construída.
A relação do menino Jamal com os resquícios de um mundo que lhe chega através de brechas no cotidiano é o plot do filme. O mundo globalizado, a cultura universal, chega-lhe de forma opressiva – as violências interna, do ambiente sociocultural indiano, e externa, da tal cultura universal audiovisual, são simbióticas. Uma não chega sem a outra. E a percepção dessa simbiose garante sua sobrevivência. A história das periferias que se apropriam e recombinam a violência do avanço técnico-cultural e o transforma em riqueza é mostrada pela metáfora do menino favelado que vence o cinismo do apresentador de TV. Cada pergunta é devidamente respondida com um pedaço da sua vida. Na visão de Danny Boyle a Índia é explicitada pelo enfrentamento direto do favelado com o opressor e a redenção é a vitória garantida pela indústria do cinema.
O controle minucioso do discurso periférico e a linguagem pop são feitos para agradar ao espectador ocidental e faz do filme um Cidade de Deus com a violência suavizada. Não que seja pior, nem melhor. Mas garante um alcance mais amplo e permite o intercâmbio necessário em tempos de crise [financeira e criativa] entre Hollywood e Bollywood.