Quando a tarde de sábado do dia 29 de agosto iniciou nem o mais otimista dos turfistas ou catedráticos poderia prever o que estava por vir. Foi demais… emocionou todos que estavam presentes. Assim ocorreu o resultado efetivo da grande festa da programação do Grande Prêmio Goiás 2009 no Hipódromo da Lagoinha. Não tinha como ser melhor, inclusive na apuração do resultado financeiro. Muitas… e muitas… pessoas transitando e se acomodando pelas sociais, salão de apostas e restaurante panorâmico, todas buscando o melhor lugar para visualizar o desenrolar de cada um dos páreos da programação. (www.hlagoinha.com.br, 3.9.9)
Corridas de cavalos guardam um charme aristocrata que hoje se vê em poucos lugares. Lembro de ver retratado no cinema, em filmes dos quais não me recordava os nomes (apenas que são antigos), senhoras desfilando chapéus e jóias gigantescos. Senhores, mesmo os não honrados, enfiados em ternos malacabados e panamás hoje mais charmosos que por aquelas épocas. Essa pompa agora passa longe dos hipódromos. Ou pelo menos do de Goiânia, o saudoso Hipódromo da Lagoinha que, durante a infância via quando passava por lá dentro de um ônibus e imaginava como seria o que ocorria ali dentro.
Tarde de sábado normal na cidade: calor infernal e nada nada nada para se fazer além de ir a um bar e beber. Era o combinado até passar os olhos pelo site de um jornal em busca tardia pelas notícias do dia. “Hipódromo da Lagoinha sedia hoje GP Goiás de turfe.” Um convite despretensioso, meio galhofeiro, para o Alfredo Mergulhão, que comprou a ideia. Eduardo Abreu já estava na caça de um boteco com sombra e onde a cerva permaneça gelada por pelo menos 15 minutos. Nem titubeou.
Ainda acreditando na nobreza do esporte, procuramos saber o traje. Não usaríamos galochas nem camisas pólo. Só queríamos saber se dava pra ir de bermuda. E dava. Aqui não é o GP Brasil, amigo.
Um cantil com uísque nos garantiria caso não tivéssemos onde comprar bebidas. Já foi difícil ir ao turfe sem um chapéu e um charuto. Não daria certo sem doses encorajadoras de álcool. As corridas começaram as 14 horas. Chegamos no horário. Só pensava em balançar o bilhete da aposta e gritar o nome meu alazão. Uma arquibancada para cerca de 150 pessoas. Do lado, um bar com dez mesas e uma espécie de restaurante-camarote em cima. Do lado do bar os guichês de apostas e um quadro negro no fundo onde mais tarde um gordinho faria uma espécie de bolão. Me senti numa locação de filme.
Com cerveja, sem uísque. Eram 14 horas e não, não somos alcoólatras. Com cerva gelada a módicos R$ 3 em mãos, subimos para a arquibancada e nos aboletamos numa mesa. Posição privilegiada. Sorte de quem não sabia que não precisava chegar tão cedo para ver páreos sem importância e duplamente sem glamour. Ah, o glamour.
No guichê avançado de apostas pedimos orientações à gentil atendente. Explicou e nada entendemos. Pegamos os papéis com os páreos e os últimos resultados dos cavalos. Não conseguimos apostar na primeira corrida. Ainda meio sem lugar, vimos os cavalos passarem correndo e o narrador se esforçar para seguir com a voz a velocidade dos equinos. Parecia locutor de rádio em dia de jogo no Serra Dourada.
O primeiro nome de cavalo que chamou atenção foi Empate Técnico (as alcunhas são um caso a parte). Mas não resisti a apostar no PontoComPontoBr. Me passava uma ideia de modernidade. Meu real solitário foi para ele. Receberia, creio, algo entre vinte a cinquenta centavos se ganhasse (as apostas são 1/20, 1/40, etc. e variam de acordo com o preparo do pangaré). Largada dada do outro lado da pista de quase dois quilômetros, a cerca de 400 metros de distância de nós. Só vi que meu garanhão chegaria em último na reta oposta. Descobri hoje, 3.9.9, que fomos os penúltimos (\o/). Primeira lição que não aprendi: não aposte nos nomes, mesmo com Empate Técnico tendo ganhado. Ele era o favorito.
Meia hora ou mais entre uma e outra corrida. Entrada free fazia o lugar aos poucos encher. Na arquibancada, representantes de diversas classes sociais – menos A e B – buscavam cerveja, refrigerantes, pipoca e espetinhos para os pimpolhos. A quantidade de crianças, os pula-pulas e o passeio de pônei em volta de uma cama elástica (!) emulavam ali um ambiente familiar.
Nada de uísque, chapéus, charutos ou golpes.
As pessoas no bar pareciam mais habituadas ao lugar. Quase tinham ar blasè. Quase. Camisas pólo com listras horizontais, calças Wrangler e sorrisos fáceis. São proprietários de cavalos ou parentes dos donos. Ou não. Fato é que ninguém bateu as duas morenas que passaram em nossa frente: meia-calça preta, sapato vermelho bonequinha, vestidinhos adequados ao clima e carregados de charme, e, claro, cabelos devidamente espichados. Enfim um toque de glamour, mesmo sem os chapéus.
Segundo páreo e todos entramos no jogo. E todos perdemos, claro.
Já eram 15h30 e o número de pessoas já havia dobrado. O GP Goiás seria o quinto páreo e as apostas grandes começariam a partir do terceiro. Rolou premiação que beirava os R$ 5 mil. Escutávamos habituès dizerem que havia tempo não ia tanta gente. Passa por mim um secretário de Estado homenageado e aparentado do administrador do hipódromo. No camarote chega mais um auxiliar de governo, um homem, digamos, bastante presente em eventos públicos. Tudo isso que eu não estava vendo foi relatado no site do evento, com a emocionante abertura deste texto.
Terceiro páreo começa. Já sob leve efeito das cervas, arriscamo-nos num bolão. Queríamos cada um escolher um cavalo em cada um dos quatro páreos seguintes. A conta beiraria R$ 100. Não somos aristocratas, amigos. Apostamos em dois barbadas e pagamos cada um R5,33. Depois de termos
lido o jornal do turfe e os folhetos de resultados, resolvemos apostar nos cavalos indicados pelos joqueis e jogadores, na pedra cantada que havia junto dos resultados anteriores. Fossem três cavalos, apostaríamos, por sugestão do Eduardo, em El Bacanal como azarão no terceiro páreo. Ele foi nosso primeiro corte orçamentário. Ele foi nossa derrocada. Ele venceu. Tudo bem, tudo bem, passássemos por esse perderíamos nos páreos seguintes. Mas teríamos pelo menos um êxito. Não tivemos.
Empolgado, no quatro e mais emocionante páreo apostei por fora numa trifeta – jogada em que se escolhe três cavalos em ordem e o resultado precisa ser exatamente o seu chute -, seria minha chance de sair do zero. Paga melhor que o vencedor solo. Perdi de novo. Mas, como não tinha entendido, até então, a aposta, achei que meu Patinho Feio, o primeiro colocado e segundo na minha lista, me renderia algum trocado. Doce e ledo engano.
Assisti ao GP Goiás já em clima de desolação pela derrota. Trabalhador e Barrons, os cavalos que escolhi antes e nos quais depositei um real em cada, perderam. Foram segundo e terceiro colocados, respectivamente. Nell´s, do Eduardo, perdeu. Arquibaldo, do Alfredo, foi o último (teria sido ele que, sem o joquei em cima, caído no início da corrida, passou direto na antes da reta de chegada?).
Alento ao nosso desfalque financeiro foi registrar, em fotos e vídeo no celular do Alfredo, nossa participação em outrora um dos mais charmosos e aristocratas esporte, o turfe. Fomos embora sem glamour e sem dinheiro. Mas voltaremos. E no GP Goiânia haveremos de vencer.