Feeds:
Posts
Comentários

Archive for the ‘Clássico’ Category

Por Pedro Palazzo Luccas

inspiração

Bukowski ensina como se portar

Quando a tarde de sábado do dia 29 de agosto iniciou nem o mais otimista dos turfistas ou catedráticos poderia prever o que estava por vir. Foi demais… emocionou todos que estavam presentes. Assim ocorreu o resultado efetivo da grande festa da programação do Grande Prêmio Goiás 2009 no Hipódromo da Lagoinha. Não tinha como ser melhor, inclusive na apuração do resultado financeiro. Muitas… e muitas… pessoas transitando e se acomodando pelas sociais, salão de apostas e restaurante panorâmico, todas buscando o melhor lugar para visualizar o desenrolar de cada um dos páreos da programação. (www.hlagoinha.com.br, 3.9.9)

Corridas de cavalos guardam um charme aristocrata que hoje se vê em poucos lugares. Lembro de ver retratado no cinema, em filmes dos quais não me recordava os nomes (apenas que são antigos), senhoras desfilando chapéus e jóias gigantescos. Senhores, mesmo os não honrados, enfiados em ternos malacabados e panamás hoje mais charmosos que por aquelas épocas. Essa pompa agora passa longe dos hipódromos. Ou pelo menos do de Goiânia, o saudoso Hipódromo da Lagoinha que, durante a infância via quando passava por lá dentro de um ônibus e imaginava como seria o que ocorria ali dentro.

Tarde de sábado normal na cidade: calor infernal e nada nada nada para se fazer além de ir a um bar e beber. Era o combinado até passar os olhos pelo site de um jornal em busca tardia pelas notícias do dia. “Hipódromo da Lagoinha sedia hoje GP Goiás de turfe.” Um convite despretensioso, meio galhofeiro, para o Alfredo Mergulhão, que comprou a ideia. Eduardo Abreu já estava na caça de um boteco com sombra e onde a cerva permaneça gelada por pelo menos 15 minutos. Nem titubeou.

Ainda acreditando na nobreza do esporte, procuramos saber o traje. Não usaríamos galochas nem camisas pólo. Só queríamos saber se dava pra ir de bermuda. E dava. Aqui não é o GP Brasil, amigo.

Que belo páreo, hein? Isso sim é Glamour, pompa e circunstância

Que belo páreo, hein? Isso sim é Glamour e pompa.

Um cantil com uísque nos garantiria caso não tivéssemos onde comprar bebidas. Já foi difícil ir ao turfe sem um chapéu e um charuto. Não daria certo sem doses encorajadoras de álcool. As corridas começaram as 14 horas. Chegamos no horário. Só pensava em balançar o bilhete da aposta e gritar o nome meu alazão. Uma arquibancada para cerca de 150 pessoas. Do lado, um bar com dez mesas e uma espécie de restaurante-camarote em cima. Do lado do bar os guichês de apostas e um quadro negro no fundo onde mais tarde um gordinho faria uma espécie de bolão. Me senti numa locação de filme.

Com cerveja, sem uísque. Eram 14 horas e não, não somos alcoólatras. Com cerva gelada a módicos R$ 3 em mãos, subimos para a arquibancada e nos aboletamos numa mesa. Posição privilegiada. Sorte de quem não sabia que não precisava chegar tão cedo para ver páreos sem importância e duplamente sem glamour. Ah, o glamour.

No guichê avançado de apostas pedimos orientações à gentil atendente. Explicou e nada entendemos. Pegamos os papéis com os páreos e os últimos resultados dos cavalos. Não conseguimos apostar na primeira corrida. Ainda meio sem lugar, vimos os cavalos passarem correndo e o narrador se esforçar para seguir com a voz a velocidade dos equinos. Parecia locutor de rádio em dia de jogo no Serra Dourada.

O primeiro nome de cavalo que chamou atenção foi Empate Técnico (as alcunhas são um caso a parte). Mas não resisti a apostar no PontoComPontoBr. Me passava uma ideia de modernidade. Meu real solitário foi para ele. Receberia, creio, algo entre vinte a cinquenta centavos se ganhasse (as apostas são 1/20, 1/40, etc. e variam de acordo com o preparo do pangaré). Largada dada do outro lado da pista de quase dois quilômetros, a cerca de 400 metros de distância de nós. Só vi que meu garanhão chegaria em último na reta oposta. Descobri hoje, 3.9.9, que fomos os penúltimos (\o/). Primeira lição que não aprendi: não aposte nos nomes, mesmo com Empate Técnico tendo ganhado. Ele era o favorito.

Hipodromo2

Aposentados e pensionistas se arriscam no bolão.

Meia hora ou mais entre uma e outra corrida. Entrada free fazia o lugar aos poucos encher. Na arquibancada, representantes de diversas classes sociais – menos A e B – buscavam cerveja, refrigerantes, pipoca e espetinhos para os pimpolhos. A quantidade de crianças, os pula-pulas e o passeio de pônei em volta de uma cama elástica (!) emulavam ali um ambiente familiar.

Nada de uísque, chapéus, charutos ou golpes.

As pessoas no bar pareciam mais habituadas ao lugar. Quase tinham ar blasè. Quase. Camisas pólo com listras horizontais, calças Wrangler e sorrisos fáceis. São proprietários de cavalos ou parentes dos donos. Ou não. Fato é que ninguém bateu as duas morenas que passaram em nossa frente: meia-calça preta, sapato vermelho bonequinha, vestidinhos adequados ao clima e carregados de charme, e, claro, cabelos devidamente espichados. Enfim um toque de glamour, mesmo sem os chapéus.

Segundo páreo e todos entramos no jogo. E todos perdemos, claro.

Já eram 15h30 e o número de pessoas já havia dobrado. O GP Goiás seria o quinto páreo e as apostas grandes começariam a partir do terceiro. Rolou premiação que beirava os R$ 5 mil. Escutávamos habituès dizerem que havia tempo não ia tanta gente. Passa por mim um secretário de Estado homenageado e aparentado do administrador do hipódromo. No camarote chega mais um auxiliar de governo, um homem, digamos, bastante presente em eventos públicos. Tudo isso que eu não estava vendo foi relatado no site do evento, com a emocionante abertura deste texto.

Terceiro páreo começa. Já sob leve efeito das cervas, arriscamo-nos num bolão. Queríamos cada um escolher um cavalo em cada um dos quatro páreos seguintes. A conta beiraria R$ 100. Não somos aristocratas, amigos. Apostamos em dois barbadas e pagamos cada um R5,33. Depois de termos

lido o jornal do turfe e os folhetos de resultados, resolvemos apostar nos cavalos indicados pelos joqueis e jogadores, na pedra cantada que havia junto dos resultados anteriores. Fossem três cavalos, apostaríamos, por sugestão do Eduardo, em El Bacanal como azarão no terceiro páreo. Ele foi nosso primeiro corte orçamentário. Ele foi nossa derrocada. Ele venceu. Tudo bem, tudo bem, passássemos por esse perderíamos nos páreos seguintes. Mas teríamos pelo menos um êxito. Não tivemos.

Empolgado, no quatro e mais emocionante páreo apostei por fora numa trifeta – jogada em que se escolhe três cavalos em ordem e o resultado precisa ser exatamente o seu chute -, seria minha chance de sair do zero. Paga melhor que o vencedor solo. Perdi de novo. Mas, como não tinha entendido, até então, a aposta, achei que meu Patinho Feio, o primeiro colocado e segundo na minha lista, me renderia algum trocado. Doce e ledo engano.

Patinho Feio fez jus aos contos infantis e deu a volta por cima

Patinho Feio fez jus aos contos infantis.

Assisti ao GP Goiás já em clima de desolação pela derrota. Trabalhador e Barrons, os cavalos que escolhi antes e nos quais depositei um real em cada, perderam. Foram segundo e terceiro colocados, respectivamente. Nell´s, do Eduardo, perdeu. Arquibaldo, do Alfredo, foi o último (teria sido ele que, sem o joquei em cima, caído no início da corrida, passou direto na antes da reta de chegada?).

Alento ao nosso desfalque financeiro foi registrar, em fotos e vídeo no celular do Alfredo, nossa participação em outrora um dos mais charmosos e aristocratas esporte, o turfe. Fomos embora sem glamour e sem dinheiro. Mas voltaremos. E no GP Goiânia haveremos de vencer.

Read Full Post »

simonalJá foi ver o documentário Simonal – Ninguém sabe o duro  que dei ? Se você gosta minimamente de música, se se interessa rasteiramente por política ou achava História uma matéria interessante na escola, não perca tempo – vá logo.  Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal montaram um dos filmes nacionais mais importantes da década. Não fosse o personagem, o filme  já seria bom pelo material resgatado e pelos depoimentos. Mais vai além. Wilson Simonal, filho de empregada doméstica, negro e ex-militar em plena ditadura, se torna um dos mais populares artistas da música brasileira no fim da década de 60 e início da década seguinte. A trajetória de sua ascensão, seu carisma, sua incrível capacidade de diálogo com o público, sua empáfia e alegria; tudo isso o torna centro das atenções naquele período delicado da história política do Brasil. E como figura simbólica de todas as contradições da realidade brasileira daquele período, Simonal se torna facilmente válvula de escape das esperanças de um povo e, posteriormente, dos temores e ressentimentos de uma classe que se via perseguida. No seu auge, Simonal peca por excesso de confiança, soberba e ingenuidade – manda agentes do DOPS espancar seu contador que supostamente estava roubando-o. Naquele período de tensões latentes –  guerra civil silenciosa e não declarada  – se torna alvo fácil da patrulha ideológica de esquerda e cai em desgraça. O sonho do artista negro e pobre que vence se transforma em mais um nefasto crime cometido naquele momento político. O filme é grande por resgatar essa história. E o faz com o cuidado de ouvir todos os lados, sem cair na tentação de tornar Simonal um herói – coisa que nunca foi. Assim, através dos depoimentos, imagens de arquivo e da narrativa conduzida por Chico Anísio, o documentário traz a dimensão trágica de uma das histórias mais impressionantes da música brasileira e devolve ao público a alegria de reconhecer um artista talentoso e carismático, que um dia foi soterrado pelos escombros da conveniente falta de memória do país.

Read Full Post »

Os Afro sambas é daqueles discos que sinto necessidade de ouvir sempre. Volta e meia ouço, pelo ouvido interno, a reverberação dos atabaques em transe, da linha melódica do violão e do coro feminino. Quando ouço esse chamado me pego a vasculhar os cds gravados ou as pastas de mp3 e saco de lá, empoeirado, o disco. E sempre é um reencontro. Naquele disco está gravado o mais profundo da alma, algo como um intermediador entre o profano e o sagrado em forma de música. O ponto de encontro perfeito onde se fundem o mitológico universal africano e a temporalidade conduzida ocidental. Entro na espiral mística que as músicas evocam muito facilmente – me pego de corpo e alma embebido pelo desvario já nos primeiros acordes de Canto de Ossanha. E o que são os afro sambas se não o chamado à entrega total? Somos convidados a nos entregar loucamente ao amor – seja ele o místico ou o carnal, se possível ambos. Mas o tempo de amor é tempo de dor e o tempo de paz não faz nem desfaz. E isso é vida. Vida é entrega. Por esse disco Vinicius de Moraes e Baden Powell deveriam ter seus nomes santificados. Mas pensando bem, já são. Cada samba ali é uma forma de oração. E cada oração um contrato firmado com as potências da vida. Saravá!


Baixaê!

Read Full Post »

Ruido

So What

Read Full Post »

Ruído

Peanuts

Repare: são indies. So cool!

Read Full Post »

Para interpretar Dylan é necessário, não só domínio da língua inglesa, mas perspicácia e intuição. Zé Ramalho parece não se importar com isso. Em Tá tudo mudando, disco com versões das músicas de Dylan em português, o paraibano não acerta o tom. Em conjunto, as canções soam até agradáveis. O problema são os detalhes.

Assim como poesia, traduzir Dylan é delicado – para não dizer impossível. É preciso muito cuidado para não se perder entre o sentido das palavras e o universo que as canções trazem consigo. Por isso a sugestão pode ser o caminho mais feliz para trazer o multifacetado platô dylanesco para a realidade de quem fala português. Sons, passagens e imagens se tornam mais eficazes se apenas sugeridas. Construidas pelo o ouvinte, as canções ganham a força que possuem no original – ou pelo menos mantém um pouco a mística.

  • Sutileza

Zé Ramalho parece ter escolhido o modo mais cômodo. Além das óbvias Negro Amor, Batendo na Porta do Céu e O Amanhã é Distante. Trouxe em seu novo disco versões para Tombstone Blues, que apareceu como Rock Feelin’good, e o clássico Like a Rolling Stone, Como uma pedra a rolar. Apesar de as letras não serem na maioria de sua autoria, é certo que a escolha estética é de sua responsabilidade. Zé erra feio ao se aproximar com muita voracidade (e, diria, preguiça) de seu objeto de desejo.

É só dar uma olhada na capa que já temos a dimensão da falta de sutileza do projeto. O músico paraibano, travestido de Dylan, a segurar cartazes, como no clipe Subterranean Homesick Blues, provoca – para dizer o mínimo – vergonha alheia. Logicamente o efeito imediato de aproximação a Dylan fica claro. Qualquer celenterado perceberia que se trata de um disco-homenagem. Mas o efeito é forçado. A capa não exige do ouvinte associações mentais que resultariam numa eficaz (e inteligente) aproximação. O resultado, por ser tão explícito, é grotesco. Beck em seu novo disco, Modern Guilt, faz uma homenagem muito mais instigante e feliz. Observem:

29174_07_BECK_BKlt.qxdramalho1

  • Versões e versões

É disso que falo. Falta de sutileza. Essa aproximação forçada é desastrosa. O que fica claro não só na capa, mas nas letras. É preciso comparar. A clássica versão de It’s all over now, baby blue, Negro Amor, de Caetano Veloso e Pericles Cavalcante, diz muito sobre como sugestões podem ser mais provocantes. A certa altura Dylan diz

The highway is for gamblers, better use your sense.
Take what you have gathered from coincidence.
The empty-handed painter from your streets
Is drawing crazy patterns on your sheets.
This sky, too, is folding under you
And its all over now, baby blue.

O que Caetano e Cavalcante respondem

A estrada é pra você e o jogo é a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada negro amor
E não tem mais nada negro amor

Repare que onde a língua é um entrave, a poesia toma seu lugar. O fim que é claro, como uma resposta direta dos acontecimentos poéticos, é induzido. A poesia se esconde na associação das palavras, ou no som. Assim se preserva as imagens : baby blue, por exemplo, vira negro amor – som e sentido dançam provocando o ouvinte.

Diferente de Rockin Feelin’good. A versão de Maurício Baía, para Tombstone Blues, traz a música para uma realidade mais imediata da juventude brasileira. O garoto fuma um cigarrão (sic) enquanto o pai se preocupa com a situação e a mãe faz o almoço. O que é empobrecedor, por perder as várias citações e críticas à guerra do Vietnã, acaba sendo passável pela força rocker que possui. Zé Ramalho, porém, não contente com a banalização vai fundo (muito!) e acrescenta à letra: O Tropa de Elite mostrou a classe média como sendo responsável grande tragédia pois compra a sua droga e financia a violência é mais um peso em nossa consciência. Deprimente. Minha tia não faria pior.

Posso ficar alongar o texto ainda mais, o que diminuiria de 1,3 para menos 0,5 leitores, citando várias outros pequenos deslizes que comprometem o disco. Mas já deu para pegar o espírito da coisa. Além disso, prefiro ficar por aqui curtindo a versão de Bryan Ferry para Positively 4th Street e repetindo que deus está nos detalhes. Ou o diabo.

Read Full Post »

Ruído

Music is a weapon

Fela Kuti

Read Full Post »

Nasce um clássico

Há aqueles clássicos que no seu tempo não são reconhecidos. O público não entende, a crítica dá duas estrelas e meia, não ganha o Troféu Imprensa. Outros, entretanto, são como um clarão no céu noturno – são de imediato reconhecidos. É o caso de Monster Bus. Premiado como melhor filme caseiro no Festcine, o mais importante festival de cinema de Goiânia , sintetiza o que há de melhor na cultura goiana. Surge um clássico.

Read Full Post »