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Posts Tagged ‘wilson simonal’

simonalJá foi ver o documentário Simonal – Ninguém sabe o duro  que dei ? Se você gosta minimamente de música, se se interessa rasteiramente por política ou achava História uma matéria interessante na escola, não perca tempo – vá logo.  Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal montaram um dos filmes nacionais mais importantes da década. Não fosse o personagem, o filme  já seria bom pelo material resgatado e pelos depoimentos. Mais vai além. Wilson Simonal, filho de empregada doméstica, negro e ex-militar em plena ditadura, se torna um dos mais populares artistas da música brasileira no fim da década de 60 e início da década seguinte. A trajetória de sua ascensão, seu carisma, sua incrível capacidade de diálogo com o público, sua empáfia e alegria; tudo isso o torna centro das atenções naquele período delicado da história política do Brasil. E como figura simbólica de todas as contradições da realidade brasileira daquele período, Simonal se torna facilmente válvula de escape das esperanças de um povo e, posteriormente, dos temores e ressentimentos de uma classe que se via perseguida. No seu auge, Simonal peca por excesso de confiança, soberba e ingenuidade – manda agentes do DOPS espancar seu contador que supostamente estava roubando-o. Naquele período de tensões latentes –  guerra civil silenciosa e não declarada  – se torna alvo fácil da patrulha ideológica de esquerda e cai em desgraça. O sonho do artista negro e pobre que vence se transforma em mais um nefasto crime cometido naquele momento político. O filme é grande por resgatar essa história. E o faz com o cuidado de ouvir todos os lados, sem cair na tentação de tornar Simonal um herói – coisa que nunca foi. Assim, através dos depoimentos, imagens de arquivo e da narrativa conduzida por Chico Anísio, o documentário traz a dimensão trágica de uma das histórias mais impressionantes da música brasileira e devolve ao público a alegria de reconhecer um artista talentoso e carismático, que um dia foi soterrado pelos escombros da conveniente falta de memória do país.

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